Esta é a principal razão que nos levou a criar esta escola do CUIDAR, mas estes não são os únicos destinatários; partimos do princípio que todos todos são cuidadores, no mínimo, de si próprios, como tal, todos precisam de ser cuidados e de saber cuidar-se.
"[...]
O operador da saúde é por essência um curador. Cuida dos outros como
missão e como opção de vida. Mas quem cuida do cuidador, título de um
belo livro do médico dr. Eugênio Paes Campos (Vozes 2005)? Partimos do
fato de que o ser humano é, por sua natureza e essência, um ser de
cuidado. Sente a predisposição de cuidar e a necessidade de ser ele
também cuidado. Cuidar e ser cuidado são existenciais (estruturas
permanentes) e indissociáveis.
É notório que o cuidar é muito
exigente e pode levar o cuidador ao estresse. Especialmente se o cuidado
constitui, como deve ser, não um ato esporádico, mas uma atitude
permanente e consciente. Somos limitados, sujeitos ao cansaço e à
vivência de pequenos fracassos e decepções. Sentimo-nos sós. Precisamos
ser cuidados, caso contrário, nossa vontade de cuidar se enfraquece. Que
fazer então?
Logicamente, cada pessoa precisa enfrentar com
sentido de resiliência (saber dar a volta por cima) esta situação
dolorosa. Mas esse esforço não substitui o desejo de ser cuidado. É
então que a comunidade do cuidado, os demais operadores de saúde,
médicos e o corpo de enfermagem devem entrar em ação.
O
enfermeiro ou a enfermeira, o médico e a médica sentem necessidade de
serem também cuidados. Precisam se sentir acolhidos e revitalizados,
exatamente, como as mães fazem com seus filhos e filhas. Outras vezes
sentem necessidade do cuidado como suporte, sustentação e proteção,
coisa que o pai proporciona a seus filhos e filhas.
Cria-se então
o que o pediatra R. Winnicott chamava de “holding”, quer dizer,
aquele conjunto de cuidados e fatores de animação que reforçam o
estímulo para continuar no cuidado para com os pacientes.
Quando
este espírito de cuidado reina, surgem relações horizontais de confiança
e de mútua cooperação, se superam os constrangimentos, nascidos da
necessidade de ser cuidado. Feliz é o hospital e mais felizes ainda
são os pacientes que podem contar com um grupo de cuidadores. Já não
haverá “prescrevedores” de receitas e aplicadores de fórmulas, mas
“cuidadores” de vidas enfermas que buscam saúde."
Leonardo Boff é teólogo e filósofo
in: http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2012/05/noticias/a_gazeta/opiniao/1242816-quem-cuida-do-criador.html