sexta-feira, 25 de maio de 2012

"Quem cuida do cuidador?"

Esta é a principal razão que nos levou a criar esta escola do CUIDAR, mas estes não são os únicos destinatários; partimos do princípio que todos todos são cuidadores, no mínimo, de si próprios, como tal, todos precisam de ser cuidados e de saber cuidar-se.

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O operador da saúde é por essência um curador. Cuida dos outros como missão e como opção de vida. Mas quem cuida do cuidador, título de um belo livro do médico dr. Eugênio Paes Campos (Vozes 2005)? Partimos do fato de que o ser humano é, por sua natureza e essência, um ser de cuidado. Sente a predisposição de cuidar e a necessidade de ser ele também cuidado. Cuidar e ser cuidado são existenciais (estruturas permanentes) e indissociáveis.

É notório que o cuidar é muito exigente e pode levar o cuidador ao estresse. Especialmente se o cuidado constitui, como deve ser, não um ato esporádico, mas uma atitude permanente e consciente. Somos limitados, sujeitos ao cansaço e à vivência de pequenos fracassos e decepções. Sentimo-nos sós. Precisamos ser cuidados, caso contrário, nossa vontade de cuidar se enfraquece. Que fazer então?

Logicamente, cada pessoa precisa enfrentar com sentido de resiliência (saber dar a volta por cima) esta situação dolorosa. Mas esse esforço não substitui o desejo de ser cuidado. É então que a comunidade  do cuidado, os demais operadores de saúde, médicos e o corpo de enfermagem devem entrar em ação.

O enfermeiro ou a enfermeira, o médico e a médica sentem necessidade de serem também cuidados. Precisam se sentir acolhidos e revitalizados, exatamente, como as mães fazem com seus filhos e filhas. Outras vezes sentem necessidade do cuidado como suporte, sustentação e proteção, coisa que o pai proporciona a seus filhos e filhas.

Cria-se então o que o  pediatra  R. Winnicott chamava de “holding”, quer dizer, aquele conjunto de cuidados e fatores de animação que reforçam  o estímulo para continuar no cuidado para com os pacientes.

Quando este espírito de cuidado reina, surgem relações horizontais de confiança e de mútua cooperação, se superam os constrangimentos,  nascidos da necessidade de ser cuidado. Feliz é o hospital  e mais felizes  ainda são os pacientes que podem contar com um grupo de cuidadores. Já não haverá “prescrevedores” de receitas e aplicadores de fórmulas, mas “cuidadores” de vidas enfermas que buscam saúde."

Leonardo Boff é teólogo e filósofo
in: http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2012/05/noticias/a_gazeta/opiniao/1242816-quem-cuida-do-criador.html

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