domingo, 22 de setembro de 2013

CUIDAR- OS FORMADORES- QUEM SOMOS NÓS?


Pessoas. Com crianças dentro. Como toda a gente. Pessoas que sofreram o que tinham a sofrer e um dia disseram: "Já chega!". Estas pessoas, um dia, ou um bocadinho cada dia, fartaram-se do velho drama e fizeram uma coisa um bocado contraditória. Abriram a porta da dor. Deixaram de lhe resistir. Primeiro tiveram de arredar todos os velhos móveis, armários, guarda-fatos, que tinham encostado por dentro para que a dor não entrasse. Foi engraçado, porque fartaram-se de espirrar. O pó depositado nos esconderijos entre a porta e os móveis explodiu numa espécie de bigbang pessoal. E aconteceu o que é normal quando se abre uma porta. Como esperado e temido, o medo entrou. Mas quando se abrem portas, pode acontecer também que algo saia. E assim foi: saiu o sofrimento.
Na verdade, quando a dor é aceite, o sofrimento desaparece, porque este é apenas uma enorme resistência à dor. Começaram, então, a dançar com a dor. A massajar a dor. A respirar a dor, a brincar com a dor, como peças de lego ou de puzzle, a conversar com ela, a criar, a dar-lhe voz, expressão, movimento, espaço, dignidade. Ficaram entusiasmados e abriram os corpos e as mentes a esta velha amiga tanto tempo escorraçada. Foi então que nesta dança entre cada um deles e a dor, a criança surgiu. A das lágrimas, mas também a dos milagres. Passaram a devotar os seus dias a cuidar dessa criança e hoje estes adultos que embalam dentro de si as criança sentem-se suficientemente nutridos para partilhar isso com quem queira. Cada um com sua cor. Não são mais sábios, nem mais corajosos, nem mais valorosos do que ninguém. São apenas pessoas que passaram pelo sofrimento, que um dia se cansaram e decidiram conversar com a dor. Adquiriram algumas ferramentas que têm ajudado nessa tarefa. E estão disponíveis para a partilha. Porque nada do que é humano lhes é estranho.
http://esmtc.blogspot.pt/2012/06/cuidar-aprendizagens-para-um-re.html


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