domingo, 23 de setembro de 2012

O alívio



"- Não, nada de tristeza! Pelo contrário, quando falei consigo há alguns minutos sobre morrer sozinho, senti uma poderosa onda de alívio. Não tanto pelo que eu disse, mas pelo facto de o dizer, de compartilhar finalmente o que sentia.
- Conte-me mais sobre esse sentimento.
- Poderoso. Tocante. Um momento sagrado! Por isso chorei. Por isso continuo a chorar. Nunca tinha feito isto antes. Olhe para mim! Não consigo conter as lágrimas.
- É bom, Friedrich. As lágrimas profundas purificam.
Nietzsche, de rosto enterrado nas mãos, anuiu com a cabeça.
- É estranho, mas no exato momento em que, pela primeira vez na minha vida, revelo a minha solidão em toda a sua profundeza, em todo o seu desespero..., nesse preciso momento a solidão desvanece-se! O momento em que lhe contei que jamais fui tocado, foi exatamente o momento em que me permiti pela primeira vez ser tocado. Um momento extraordinário, como se uma enorme pedra de gelo interior estalasse subitamente e se despedaçasse."

in: Quando Nietzsche chorou, de Irvin D. Yalom

Diálogo entre o filósofo Nietzsche e o Dr Josef Breuer, no termo de um processo de terapia mútuo. Aqui está patente o isolamento em que mergulha, por vezes, quem cuida, quem é uma referência para os outros e se encontra, afinal, na maior dor do isolamento. O esquecimento de si, a ausência de apoio a si mesmo, a falta do sentido de cuidar-se. A partilha pode ser uma forma de o fazer. Entre outras.



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